Ao longo da minha vida corporativa, por muitas vezes precisei recorrer a outros gestores tão experientes quanto eu, para buscar conselhos e ouvir novos pontos de vista que me ajudaram a decidir momentos importantes na posição que exercia. A questão é que há alguns anos isso seria apenas uma troca entre pessoas alinhadas profissionalmente, e que se entendiam em suas dores e podiam dividir opiniões para saber que caminhos seguir. Mas, com tantas mudanças no cenário corporativo e tantos bons executivos deixando as empresas e seguindo o caminho das consultorias, o bate-papo se profissionalizou e ganhou novos nomes como coaching ou a mentoria.
A ideia deste artigo não é mostrar certo ou errado. Mas entender a diferença entre as metodologias para que você possa identificar qual delas se enquadra no momento atual do seu negócio. Quanto mais você entende os conceitos, mais assertivo se torna no momento de contratar o profissional ideal.
Para seguir lendo, mude qualquer ideia preconceituosa que tiver a respeito do termo coaching. Os americanos sabem muito bem trabalhar o conceito, em suas modalidades esportivas e escolares. Atletas precisam de uma pessoa que não só ajudem a aperfeiçoar as habilidades mas também dar conselhos e sugestões que muitas vezes servem para suas vidas. Nesse caso, o coach (ou técnico), precisa ir além das palavras, sendo um espelho de bom comportamento e sensatez. É quase uma figura paterna, que precisa agir muito mais pelo exemplo.
No processo de coaching corporativo, nem sempre o coach é exatamente um CEO. Gestores de diferentes segmentos podem se qualificar para auxiliar empresas e executivos no que for preciso. Ao longo do processo, é natural que o coach apresente possibilidades de soluções para resolver os problemas internos ou externos de uma empresa. Ele pode ser uma figura ativa e, muitas vezes, inspiradora. É claro que a decisão final sempre será do cliente mas a participação do coach é relevante para dar um norte dentro da corporação.
E como ele faz isso? Como um bom técnico, extraindo o melhor das potencialidades de seu coachee contribuindo para seu crescimento profissional e pessoal, enxergando além do cargo e das competências técnicas, e conhecendo características pessoais para poder desenhar as melhores estratégias, aquelas com as quais seu liderado será capaz de acolher e lidar, pois ao desenvolver mais seu lado humano, poderá enxergar de maneira madura as soluções dos problemas e processar claramente todas as informações. Aqui, falamos em empatia, confiança e intercolaboração. Conforme evolui como pessoa, o executivo toma decisões melhores, amplia o senso de coletividade, o que é excelente para a empresa e utiliza ao máximo seu potencial e suas competências.
Já a mentoria se coloca como uma jornada mais passiva. Na sua essência, mentoria quer dizer o ato ou prática de ajudar ou de aconselhar uma pessoa menos experiente, durante um período de tempo. Assim, temos o mentor, que aconselha, e o mentorado, que ouve e pondera todo o conteúdo que recebe, buscando a melhor maneira de usá-lo em seu negócio ou em sua organização. Aqui, há uma tradição socrática, onde o filósofo grego orientava quem o procurasse por meio de questionamentos que deviam ser respondidos pela pessoa que carregava o dilema. Para Sócrates, essa metodologia que usa questionamentos constantes para chegar a uma resposta, era a mais perfeita forma de alguém resolver seus problemas, pois não havia interferência externa. Era preciso olhar para dentro para buscar o sentido da dúvida. “Conhece-te a ti mesmo”, a famosa frase atribuída ao filósofo descreve perfeitamente as bases da mentoria. Ao lado de alguém mais experiente, você aprende a se auto conhecer e descobrir de que maneira pode resolver seus problemas. Tudo está dentro de você. É muito mais sobre agregar conhecimento e orientação, através de apoio, reflexões e insights apropriados e também das próprias vivências do mentor. Por ser uma ferramenta mais ampla em termos de dinâmica, pode ser realizada tanto de maneira individual ou em grupo, já que as respostas virão de cada um, e o debate sempre será estimulado.
Um ponto em comum para ambas as ferramentas é que quando bem direcionadas geram o efeito desejado. Um bom coach ou mentor guiam seus pupilos pela jornada correta e sabem conduzi-los em linha reta, entendendo o momento de não permitir que se desviem. Afinal, quem busca este tipo de suporte tem grandes problemas para resolver. Portanto, não existe a metodologia correta, existe aquela que mais se adapta ao dilema que uma pessoa ou uma organização enfrentam naquele momento.
